quarta-feira, 29 de julho de 2009

Cê tá pensando que ele é Lóki?



Dia escuro, tarde gelada, nada pra fazer. Quarta-feira. Dia de ir ao cinema. Meia hora antes da única sessão (da 7º semana de exibição) começar, percebo o infortúnio de se sair apressada de qualquer lugar: falta de munição. Por quê toda vez eu sinto que meu boleto de mensalidade se parece mais com uma carta de alforria? Ok, eu digo à moça, me vê uma inteira. Sou assaltada à queima-bolso mas ninguém mandou ser peroba e deixar uma arma daquele calibre burocrático em casa. Sendo mais otimista, não terá uma alma no cinema, aposto comigo. Dois véio. Êba. Cinco minutos depois da sessão começar, um/uma casal lésbica entra na sala papeando. Pior que mulher com amiga no cinema é mulher com namorada. Discutir relação aquela hora é de cagar. Um shiu serviu, e a introdução ao vivo de lariiii lariiii chuta nossos estômagos. O Arnaldo parece o chapeleiro maluco depois do diazepan. Dá vontade de ser ele por uma hora, igual no Quero ser John Malkovich, com doses amplas de adrenalina. Como disse Tom Zé :“você não vê ninguém perto dele, ao seu lado, quando o cara tá ali sentado, quieto. A sabedoria mete medo nas pessoas.”

Afastado do mundo desde muito tempo, vive em seu próprio mundo. Do tipo que constrói uma nave espacial e não avisa ninguém para manter segredo, mas convida pessoalmente o capitão. É como uma eterna criança com a diferença de já ter andado pelo lado negro da lua. Para esquecer isso ele pinta. Observa uma tela em branco como se olhasse a quinta dimensão. Talvez ele veja. Que inveja.

Sentir a que ponto a expansão mental de um sobrevivente que se atirou do prédio provoca é xamânico. Olhar por uma tela grande a influência que o som daqueles rapazes provocavam no público beira o orgásmico. Você resmunga: inventem logo a máquina do tempo, terráqueos. Só para ir correndo comprar um ingresso de festival.

No Brasil da década de 70 o flower chegou mas o power já tava instaurado por outros, como numa bad trip epidêmica, a ditadura. E isso pesa o legado revolucionário que Os Mutantes imprimiram no mundo: impunha-se uma geração X quixotesca. Corajosa. Insana. Virtuosa. Eram três, não precisaram nem de um quarto.

Sean Lennon e imagens de Curt Cobain aparecem para venerar sua majestade. Mas a maior revelação do documentário foi o espinho proposto em forma de dilema: se pudesse escolher entre uma apresentação dos Mutantes e uma dos Beatles, qual você veria?

Assistam Lóki. Garanto ser mais refrescante que tomar banho após um acampamento. Vai planejar uma Fuga para a catarse, tocar, até o dedos latejarem. Cantar até sua voz pedir de joelhos um pulmão extra. Dançar até suas entranhas explodirem dentro do corpo. Astronauta libertado. Esse é o espírito da vida.

Faltou o visceral, num depoimento de Rita Lee. Ainda que, e sem mistério algum, ela escolha Beatles ao vivo e a cores, eu lhe direi curvada: escolho Mutantes. In Tecnicolor.


“Somente quem muda permanece em meu mundo”. Fridriech Nietzsche




Um comentário:

Marcella disse...

quero muito ver, vou amanhã se pans!