sexta-feira, 24 de julho de 2009

Junte-se à eles quando fizer algum sentido



The Decapitor


Li uma matéria da Super esse mês e fiquei um tanto quanto absorta. Realmente procurei dados como dizem ser escassos, e poucos são os divulgados.
Há um fenômeno chamado de coletivos ao redor do mundo, muito do esquisito. Se você ainda não percebeu, não é motivo (ainda) para entrar em parafuso. Culpa da mídia que raramente o menciona. Leia essas manchetes non-sense:

Em Roma dezenas de pessoas seqüestram um ônibus, e munidos de aparelhos eletrônicos iniciam uma festa lá dentro.

Placas indicando lugares históricos sombrios surgem misteriosamente nas ruas de Nova York, indicando por exemplo, mercados onde leiloavam-se escravos no passado.

A última sexta-feira de cada mês centenas de ciclistas se reúnem aparentemente “por coincidência” na hora do rush travando o trânsito em mais de 300 cidades nos quatro cantos do mundo.

Assim como placas de trânsito na Amazônia são adulteradas de repente, adesivos com mensagens doidas multiplicam-se todos os dias pelas capitais e um estabelecimento estranho, como a Loja Grátis, abre em Belo Horizonte. Tudo isso tem conexão entre si, são obras dos coletivos, um movimento atual que causa desconcerto no seu cotidiano monótono.
Quem o faz geralmente é autor de coisas grandiosas que por um minuto você bateria o olho e diria que é arte. É mais. São construídores de ferramentas para tornar o mundo mais questionável.
Intervenções como a de Marcel Duchamp foram precurssoras em pôr interrogações naquilo que era considerado arte. A revolta de 68 dos estudantes na França, foi em muito auxiliado por situacionistas influenciados pelo marxismo: eles faziam pichações e cartazes anônimos para combater uma cultura da qual não concordavam. Os coletivos de hoje continuam com esse intuito mas para isso criaram outras maneiras de chamar sua atenção. Na Itália 4 artistas vienenses criaram um coelho felpudo gigante que levou 5 anos para ser tecido e dá pra ser visto no Google Maps. O motivo? Dizem que é uma reflexão sobre a decadência. Detalhe: ao seu lado são exibidos suas entranhas coloridas para mostrar que ele vai ficar apodrecendo até 2025. Mas calma, a bizarrize não acaba...
Os coletivos mais curiosos são os que discutem hábitos, arte, política e economia. Superflex resume bem: 3 dinamarqueses decidem produzir guaraná na Amazônia após descobrirem que a produção da bebida era controlada por um punhado de grandes empresas de refrigerante que repassavam os lucros de forma miserável aos agricultores. O “guaraná da justiça” foi lançado na Europa com direito até de um irônico comercial em linguagem publicitária. Hoje, todos são bem pagos.
Contra fatos não há argumentos: pessoas sozinhas não costumam fazer grande coisa na Terra. Basta ver o que é o Wikipedia e sistema Linux como provas da onda colaborativa na internet. Já diria o poeta (John Donne) e eternizado por Hemingway em Por quem os sinos Dobram: “Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente. Será? Há controvérsias. E de dúvidas, esse movimento coletivo tá cheio.

Você tem idéias libertárias como as desses caras? Então conheça Hakim Bey, um escritor americano, hoje com 64 anos. Conheci-o através de seu livro Terrorismo Poético e Outros Crimes Exemplares emprestado por um anarcopunk chamado Pararraio quando fazia engenharia. Lembro que foi uma leitura do tipo soda-cáustica . Pois bem, o Hakim Bey criou um conceito: TAZ, Zonas Autônomas Temporárias. Ele prega pra desencanar dessa visão de querer-mudar-o-mundo-inteiro-duma-vez. Os coletivos atuam em áreas alternativas que servem para experimentar novas formas de viver influenciando outros que estão do lado de fora. Dentro do TAZ existem regras e idéias próprias e, talvez por isso, seja tão difícil encontrar traços comuns nessas intervenções coletivas apesar de compartilharem o mesmo conceito platônico: despertar a vida de outro ângulo.

“Nós, que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que vivem na base dos pêlos do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos finos pêlos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico. Ou seja, aquilo que tira o coelho da cartola: a verdade através da sua experiência (vide O Mundo de Sofia)

É tudo muito vertiginoso, eu sei, parece um porre de tequila num parque de diversões mas acredito que a sensação de que o mundo anda à beira de uma síncope pode ter sido notada por muitos por aí. Os espasmos se manifestam e é uma coisa que não se comenta muito, a gente só percebe quando olha a cidade através da janela do carro (enquanto isso outras pessoas discutem assuntos banais). Ou anda em São Paulo com um fone nos ouvidos sozinha. Falar nisso, 2+2=5 do Radiohead seria uma trilha adequada for such a nut place.

Nenhum comentário: